quarta-feira, 28 de julho de 2010

ALUNOS DO 1º ANO DO ENSINO MÉDIO: Crônica lírica

Quando a nostalgia, a saudade e a emoção predominam, tentando traduzir poeticamente a linguagem dos sentimentos, a crônica é lírica.
EXEMPLOS:

TEXTO 1: APELO
Amanhã faz um mês que a Senhora está longe de casa. Primeiros dias, para dizer a verdade, não senti falta, bom chegar tarde, esquecido na conversa de esquina. Não foi ausência por uma semana: o batom ainda no lenço, o prato na mesa por engano, a imagem de relance no espelho.
Com os dias, Senhora, o leite pela primeira vez coalhou. A notícia de sua perda veio aos poucos: a pilha de jornais ali no chão, ninguém os guardou debaixo da escada.
Toda a casa era um corredor deserto, e até o canário ficou mudo. Para não dar parte de fraco, ah, Senhora, fui beber com os amigos. Uma hora da noite eles se iam e eu ficava só, sem o perdão de sua presença a todas as aflições do dia, como a última luz na varanda.
E comecei a sentir falta das pequenas brigas por causa do tempero na salada o meu jeito de querer bem. Acaso é saudade, Senhora? As suas violetas, na janela, não lhes poupei água e elas murcham. Não tenho botão na camisa, calço a meia furada. Que fim levou o saca-rolhas? Nenhum de nós sabe, sem a Senhora, conversar com os outros: bocas raivosas mastigando. Venha para casa, Senhora, por favor
(Dalton Trevisan)
No contexto da crônica, a ausente figura feminina presentifica-se por meio do impressionismo do autor. No lirismo nostálgico, está o predomínio das funções poética e emotiva da linguagem. A função conativa (o vocativo “Senhora”) reitera o título “Apelo”, sugere o destinatário, mas não o identifica, O texto ganha expressividade nessa indefinida mulher: o leitor é instado a supor a identidade da senhora ausente com a mesma intensidade com que supõe o motivo da ausência, e, dessa forma, identifica-se com as emoções do narrador.

TEXTO 2: Coisas antigas
Depois de cumprir meus afazeres voltei para casa, pendurei o guarda-chuva a um canto e me pus a contemplá-lo. Senti então uma certa simpatia por ele; meu velho rancor contra os guarda-chuvas cedeu lugar a um estranho carinho, e eu mesmo fiquei curioso de saber qual a origem desse carinho.
Pensando bem, ele talvez derive do fato, creio que já notado por outras pessoas, de ser o guarda-chuva o objeto do mundo moderno mais infenso a mudanças. Sou apenas um quarentão, e praticamente nenhum objeto de minha infância existe mais em sua forma primitiva. De máquinas como telefone, automóvel, etc., nem é bom falar. Mil pequenos objetos de uso
mudaram de forma, de cor, de material; em alguns casos, é verdade, para
melhor; mas mudaram.
O guarda-chuva tem resistido. Suas irmãs, as sombrinhas, já se entregaram aos piores desregramentos* futuristas e tanto abusaram que até caíram de moda. Ele permaneceu austero*, negro, com seu cabo e suas invariáveis varetas. De junco fino ou pinho vulgar, de algodão ou de seda animal, pobre ou rico, ele se tem mantido digno.
Reparem que é um dos engenhos mais curiosos que o homem já inventou; tem ao mesmo tempo algo de ridículo e algo de fúnebre, essa pequena barraca ambulante.
Já na minha infância era um objeto de ares antiquados, que parecia vindo de épocas remotas, e uma de suas características era ser muito usado em enterros. Por outro lado, esse grande acompanhador de defuntos sempre teve, apesar de seu feitio grave, o costume leviano de se perder, de sumir, de mudar de dono. Ele na verdade só é fiel a seus amigos cem por cento,
que com ele saem todo dia, faça chuva ou sol, apesar dos motejos alheios; a estes, respeita. O freguês vulgar e ocasional, este o irrita, e ele se aproveita da primeira distração para sumir.
Nada disso, entretanto, lhe tira o ar honrado. Ali está ele, meio aberto, ainda molhado, choroso; descansa com uma espécie de humildade ou paciência humana; se tivesse liberdade de movimentos não duvido que iria para cima do telhado quentar sol, como fazem os urubus.
Entrou calmamente pela era atômica, e olha com ironia a arquitetura e os móveis chamados funcionais: ele já era funcional muito antes de se usar esse adjetivo; e tanto que a fantasia, a
inquietação e a ânsia de variedade do homem não conseguiram modificá-lo em coisa alguma.
*Desregramento: falta de regularidade ou de regra.
*Austero: rígido de caráter; severo, grave.
(BRAGA, Rubem. Ai de ti, Copacabana. Rio de Janeiro: Record, 1993.)

ALUNOS DAS 8.ª SÉRIES (2010): Crônica reflexiva

A crônica reflexiva é aquela cujo autor projeta sua interioridade sobre a realidade que está a sua volta, interpretando-a e registrando-a através de conjecturas, inferências e associações de ideias. 
EXEMPLOS:

TEXTO 1: VITÓRIA NOSSA
O que temos feito de nós e a isso considerado vitória nossa de cada dia?
Não temos amado, acima de todas as coisas. Não temos aceito o que não se entende porque não queremos ser tolos. Temos amontoado coisas e seguranças por não nos termos, nem aos outros. Não temos nenhuma alegria que tenha sido catalogada. Temos construído catedrais e ficado do lado de fora, pois as catedrais que nós mesmos construímos tememos que sejam armadilhas. Não nos temos entregue a nós mesmos, pois isso seria o começo de uma vida larga e talvez sem consolo. Temos evitado cair de joelhos diante do primeiro que por amor diga: teu medo. Temos organizado associações de pavor sorridente, onde se serve a bebida com soda. Temos procurado salvar-nos, mas sem usar a palavra salvação para não nos envergonharmos de sermos inocentes. Não temos usado a palavra amor para não termos de reconhecer sua contextura de amor e de ódio. Temos mantido em segredo a nossa morte. Temos feito arte por não sabermos como é a outra coisa. Temos disfarçado com amor a nossa indiferença, disfarçando nossa indiferença com angústia, disfarçando com o pequeno medo o grande medo maior. Não temos adorado, por termos a sensata mesquinhez de lembrarmos a tempo dos falsos deuses. Não temos sidos ingênuos para não rirmos de nós mesmos e para que no fim do dia possamos dizer “pelo menos não fui tolo”, e assim não chorarmos antes de apagar a luz. Temos tido a certeza de que eu também e vocês todos também, e por isso todos nem sabem se amam. Temo sorrido em público do que não sorrimos quando ficamos sozinhos. Temos chamado de franqueza a nossa candura. Temo-nos temido um ao outro, acima de tudo. E a tudo isso temos considerado a vitória nossa de cada dia... 
(Clarice Lispector) 

Vitória nossa, de Clarisse Lispector é uma obra de reflexão que revela os questionamentos e anseios dos homens. Utiliza uma linguagem que busca nas áreas mais profundas do inconsciente, onde encontram-se os arquétipos do comportamento humano, os desejos e medos, trazidos à tona por uma visão metafórica que interpreta estados de alma.

TEXTO 2: PARÁBOLAS DO PODER
Ora, existia ali, acuado naquele último canto dos palácios, um homem, longilíneo, gelado e melancólico. Todos os dias explodia em fulgores e troares, um quê por necessidade essencial de mando — o mais por impulso visceral de alimentar o medo. Quando caminhava era a um passo rápido do nada, olho no olho da atração do abismo, salvaguardado apenas pelo magnetismo sem par do próprio umbigo. E esse homem, concordantemente, tinha por nome insânia. Mas, por adulação, muitos o chamavam de critério.
(SOARES, Jô; VERÍSSIMO, Luís Fernando; FERNANDES, Millôr. Humor nos tempos do Collor. 12. ed. Porto Alegre : LPM, 1992. p. 86.)

segunda-feira, 26 de julho de 2010

7 DICAS PARA ESCREVER UM BOM ARTIGO DE OPINIÃO

por Ariane Fonseca

Como afirma Kanitz, “o segredo de um bom artigo não é talento, mas dedicação, persistência e manter-se ligado a algumas regras simples”. Cada colunista tem os seus padrões. Segue abaixo uma síntese das sete dicas deste grande escritor para argumentar bem:

1. Sempre escreva tendo uma nítida imagem da pessoa para quem está escrevendo. Imagine alguém com 16 anos de idade ou um pai de família. A maioria escreve pensando em todo mundo, querendo explicar tudo a todos ao mesmo tempo. Ter uma imagem do leitor ajuda a lembrar que não dá para escrever para todos no mesmo artigo. Você vai ter que escolher o seu público alvo de cada vez, e escrever quantos artigos forem necessários para convencer todos os grupos.

2. Há muitos escritores que escrevem para afagar os seus próprios egos e mostrar para o público quão inteligentes são. Querer se mostrar é sempre uma tentação, mas, tendo uma nítida imagem para quem você está escrevendo, ajuda a manter o bom senso e a humildade. Querer se exibir nem fica bem. Resumindo, não caia nessa tentação, leitores odeiam ser chamados de burros. Leitores querem sair da leitura mais inteligentes do que antes, querem entender o que você quis dizer.

3. Releia e rescreva os seus artigos quantas vezes forem necessárias. Ninguém tem coragem de cortar tudo o que tem de ser cortado numa única passada. Parece tudo tão perfeito, tudo tão essencial. Por isto, os cortes são feitos aos poucos.

4. Você normalmente quer convencer alguém que tem uma convicção contrária à sua. Se você quer mudar o mundo terá que começar convencendo os conservadores a mudar. Dezenas de jornalistas e colunistas desperdiçam as suas vidas ao serem tão sectários e ideológicos que acabam sendo lidos somente pelos já convertidos. Não vão acabar nem mudando o bairro, somente semeando ódio e cizânia.

5. Cada ideia tem de ser repetida duas ou mais vezes. Na primeira vez você explica de um jeito, na segunda você explica de outro. Informação é redundância. Você tem que dar mais informação do que o estritamente necessário.

6. Se você quer convencer alguém de alguma coisa, o melhor é deixá-lo chegar à conclusão sozinho, em vez de você impor a sua. Se ele chegar à mesma conclusão, você terá um aliado. Se você apresentar a sua conclusão, terá um desconfiado. Então, o segredo é colocar os dados, formular a pergunta que o leitor deve responder, dar alguns argumentos importantes e parar por aí. Se o leitor for esperto, ele fará o passo seguinte, chegará à terrível conclusão por si só e se sentirá um gênio.

7. É preciso ser conciso, direto e achar soluções mais curtas. Escreva um texto de quatro páginas, depois, reduza a duas e, mais adiante, a uma. Assim, você aprende a tirar as “linguiças” e redundâncias.
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O Aluno (por ele mesmo)

O aluno não copia: compara resultados.O aluno não fala: troca opinões.O aluno não dorme: se concentra.O aluno não se distrai: examina as moscas.O aluno não falta na escola: é solicitado em outros lugares.O aluno não diz besteiras: desabafa.O aluno não masca chiclete: fortalece a mandíbula.O aluno não lê revistas na sala: se informa.O aluno não destrói o colégio: decora a escola segundo seu gosto.
(BRINCADEIRINHA!!!!!!!!)